terça-feira, 27 de novembro de 2007

festa do urubu - dos (meus) motivos para ocupar


"dos (meus) motivos para ocupar" porque cada um que foi à festa no sábado tinha os seus motivos, e foi a reunião dessas muitas diversas pessoas que fez a festa tão rica e maravilhosa. sem sombra de dúvidas, este foi o ato mais coletivo que eu já tive o prazer de participar em toda minha vida.

segue o texto:
OCUPAR VAZIOS E SER FELIZ

Na cidade do capital, o mercado dita o fluxo dos empreendimentos mais simples como um bibelô, até as grandes intervenções e modificações da área urbana. Movido por tendências e rentabilidades, dita também o fluxo diário das nossas vidas. O espaço urbano continua, depois de um século, a funcionar sob o mesmo modelo fabril. O ritmo único do mercado diariamente nos iguala e nos alinha em grandes massas, com o mesmo propósito e os mesmos destinos. Cruzamos cegamente a cidade, rapidos e objetivos pois assim é mais produtivo. Todos se encontram nas principais vias, nas principais horas do dia. A ruas, não nos agüentam, entopem, param, engarrafam. Nós não as agüentamos, corremos para fugir delas, ficamos presos, nos estressamos, xingamos, brigamos, matamos, mas continuamos seguindo o mesmo ritmo único, a rotina única. O ciclo se repete no mesmo ritmo na escala dos dias, meses, anos, em direção ao infinito.

Da casa para o trabalho, do trabalho para o progresso, do progresso para a casa. A cidade do pensamento único vive dos espaços da Moda, os espaços vendáveis, os espaços do conforto e da beleza, o sonho padrão único construído por alguém para todos nós que seguimos o fluxo. O sonho construído nas vitrines, nas revistas, na TV, na novela, em Hollywood, na cidade. A cada curto tempo a moda diz onde e como devemos morar e trabalhar, cria novos bairros, extermina antigos, altera leis e faz decretos. Não interessa à moda os refugos, os trechos incompletos, os vazios pequenos e grandes, espalhados tão aleatoriamente.

O espaços fora da moda são muitos, cada um com uma história, cheios de pormenores e diferença, todos fora do fluxo. Esquecidos, abandonados, não vendidos, demolidos, degradados, endividados, congelados. Esses espaços são frestas, são esperas fora do ritmo massacrante do cotidiano. São barreiras entre bairros abastados e não favorecidos, barreiras que tornam o fluxo diário ainda mais longe, mais dependente de automotores variados, mais engarrafado, mais massacrante.

As sobras são o câncer da cidade contemporânea, são o resto, são a falha, são as bordas, as barreiras, o atraso. As sobras são portais, são respiros, são saídas para além do tempo cotidiano-único, momentos de vida fora do ritmo-único que nos iguala, racionaliza, nos automatiza e mata, lentamente, nosso pensamento livre e capacidade criativa.

Ocupar as sobras é antes de mais nada um respiro, um gole de liberdade, uma visita fora do modelo que estamos imersos. Uma única visita a este espaço altera o olhar, é rica, válida e suficiente para transformar um homem. O resultado é pessoal, e este é um dos objetivos. Uma visita coletiva, seguida de outras e outras pode transformar a cidade, transforma o olhar não só dos que participam, mas é capaz de ganhar outros em volta, costurar o imaginário e o tecido urbano, disperso e mal distribuído, com beleza, alegria e arte.

A ação coletiva, ao se tornar constante, inevitavelmente transfere a borda para dentro do sistema, retirando daquele espaço todas as propriedades iniciais de fuga e liberdade. A fuga é uma experiência pessoal, apenas um dos objetivos. A apropriação do espaço pelo sistema será natural, cuidar da sua entrada no sistema deverá ser outro objetivo de maneira que a borda quando aceita configure um espaço rico, bem aproveitado e de preferência díspar da estética vigente. Esse espaço sempre estará suscetível ao esquecimento novamente, pois é o ritmo do Capital. Porém, a borda transformada em sistema, transforma o sistema em borda. A Moda, que é cega, ao olhar para borda verá somente uma nova tendência a ser apropriada e vendida, ao custo do sucateamento da tendência anterior. A ação coletiva inverte o fluxo da Moda a ponto desta almejar o que lhe foi antes foi dado como dejeto, e refugar o que vende como glamour. Aqui, nós ganhamos nova borda para a ocupação.

A moda é burra, e passível de ser dominada. Para ser consumida, ela iguala todos no mesmo ritmo-único do vai e vem cotidiano, o ritmo automatiza, a automatização cessa a criatividade. A moda depende da criatividade, mas assassina o pensamento criativo. Provavelmente seja preferível poucas pessoas dizerem ao mundo qual Sonho devem consumir, do que deixar cada um pensar e agir como é melhor para si.

Percorrer os espaços além-borda, viver o tempo além-borda, e atuar na cidade além-borda é uma saída para se fazer um urbanismo coletivo e emergente, para além da vontade do pensamento único. Uma cidade feita da reunião de muitos pequenos, contrariando o fluxo da cidade de poucos grandes.

Quanto maior o número de pequenos, maior a probabilidade de acerto em espaços públicos e privados que acompanhem as reais necessidades humanas em evolução. Esta cidade é extremamente preferível à outra fabricadas por reuniões de marketing que será empurrada posteriormente das mais diversas maneiras aos diferentes públicos-alvo.

Deixemos nós de ser os alvos.

5 comentários:

Unknown disse...

mano, fazia tempo q eu não me divertia tanto...

laranja disse...

eu tambem!

i disse...

dos meu meus motivos para ocupar
"adoro uma coisa errada"

i disse...

ae hugo nem lembrava que tinha ess belogue
o posta isso tudo que voce postou no seu posta no meu tambem
só preciso lembrar o usuario e a senha
kkkk

i disse...

http://shaolinland.blogspot.com/